Evento contou com Francia Márquez, Pepe Mujica, Márcio Macedo, Gleisi Hoffmann, entre outro, no encerramento Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos

Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 

Por Janelson Ferreira

Após dois dias de atividade, um ato político-cultural encerrou a Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos, na noite desta sexta-feira (23), em Foz do Iguaçu, no estado brasileiro do Paraná. O encontro teve a participação de representantes políticos de diversos países da região. Ao todo, cerca de 4 mil pessoas, de mais de 20 países, acompanharam a Jornada. 

Participaram do ato a vice-presidenta da Colômbia, Francia Márquez; o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo; a ministra da Secretaria da Presidência da Bolívia, Marianela Prada; a deputada federal pelo Paraná e presidente do PT, Gleisi Hoffmann; o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri; além de parlamentares e representantes de organizações populares. 

Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 


Mujica abordou os regimes de exploração que os países do norte submetem, historicamente, os países do Sul Global. “Temos que multiplicar as forças para existirmos. De fora do continente, não vão nos entregar direitos gratuitamente”. Nesse sentido, ele criticou a tentativa de aprovação do Acordo Mercosul-União Europeia. “Discutimos por mais de 20 anos este acordo e nunca esteve bom para eles”. 

O acordo comercial trazia uma série de cláusulas que seriam prejudiciais aos países do Mercosul. Um dos pontos centrais era que os países do Norte obteriam acesso livre aos mercados industriais, mas fariam poucas concessões em áreas em que os países do Mercosul são competitivos. 

O ex-presidente do Uruguai também criticou as Nações Unidas frente a sua incapacidade de mediar conflitos no mundo. “Nunca a humanidade teve tanto conhecimento e recursos, mas nunca houve tantos problemas, guerras e perigos. As Nações Unidas são um desastre”, afirmou. 

Desde que Israel começou a atacar Gaza, em outubro do ano passado, já são mais de 30 mil mortos, inclusive, centenas são funcionários da própria Nações Unidas. Apesar disso, o instrumento criado pós-II Guerra Mundial para, justamente, mediar conflitos ao redor do mundo, não conseguiu aprovar um cessar-fogo para o massacre. 

Por fim, Mujica destacou a importância da integração dos povos. “Sempre se elaborou sobre a integração regional, mas nunca convocaram os povos, por isso não se realizou. Antes de mais nada, há que se convencer o povo. Só assim teremos força para, de fato, promovermos esta integração”, finalizou. 

Foto: Natália Blanco / MMM


Francia Márquez, vice-presidenta da Colômbia, apontou a necessidade de existir uma agenda de integração ampla. “Se a América Latina e Caribe não assumem uma agenda de enfrentamento ao racismo estrutural e ao patriarcado, que nos mata todo dia, então não estamos falando de integração. Necessitamos de uma profunda agenda transformadora”, afirmou Márquez. 

Para a vice-presidenta, os povos indígenas e afrodescendentes devem ser reconhecidos como protagonistas neste processo de integração. “Não é possível nesta região, habitada por povos indígenas e afrodescendentes, falar em integração sem pensar em uma agenda de reparação histórica, que combata o colonialismo e o racismo que segue explorando nossos povos”.

“A solidariedade internacional foi fundamental para construirmos uma frente ampla em 2022 e derrotar estes setores conservadores”, afirmou a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. A deputada lembrou que o avanço da extrema-direita não é só um fenômeno do Brasil, mas está na América Latina e no mundo. 

Foto: Juliana Barbosa / MST-PR

Hoffmann afirmou que, para o presidente Lula, a luta política tem que ser internacional. “A integração que realmente vai nos dar sustentação é a integração dos povos. E este evento é muito importante nesta caminhada”, finalizou.

Para Márcio Macedo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, os movimentos populares tiveram papel fundamental no combate aos ataques à democracia no Brasil. “Os governadores, prefeitos, deputados, foram importantes para resistir ao Golpe de 2016. Mas foram os movimentos sociais, do Brasil e do mundo, que denunciaram de fato este golpe e fizeram com que pudéssemos estar aqui hoje”. 

Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 

“A democracia sofre um cerco político da extrema-direita. É necessário darmos o recado de que não abriremos mão da democracia”, apontou Macedo. O ministro defendeu que quem está no governo deve se preocupar em melhorar a vida do povo, enquanto os movimentos se dedicam à construção da disputa pela hegemonia da sociedade. “O que está em jogo é a disputa pelo combate à fome, pela justiça social”, finalizou. 

O ato encerrou a Jornada iniciada no dia 22, e reuniu militantes, dirigentes sindicais, de organizações populares, representantes de partidos políticos, pesquisadores, professores e estudantes, de toda América Latina e Caribe. Para debater o fortalecimento da integração dos povos da região, discutiram a solidariedade internacionalista, a ofensiva do imperialismo sobre as terras e os povos latino-americanos e caribenhos e a constituição de uma agenda de lutas unitária, e o fortalecimento de uma articulação anti-imperialista. 

A Jornada foi organizada pela ALBA Movimentos, a Assembleia Internacional dos Povos (AIP), a Confederação Sindical das Américas (CSA), a Organização Continental Latino-americana e Caribenha dos Estudantes (Oclae), a Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo, bem como as Universidades Unioeste e UNILA. 

Silvio de Almeida também passou pela Jornada

Também na tarde desta sexta-feira, o ministro dos Direitos Humanos do Brasil, Silvio de Almeida, também visitou a Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos. Em sua fala, ele apresentou os direitos humanos como o direito ao desenvolvimento, direito a ter comida na mesa e poder sustentar sua família. 

Fotos: Juliana Barbosa / MST-PR 

“Direitos humanos é uma luta por condições dignas de vida”, afirmou. “Na América Latina, direitos humanos é uma discussão sobre trabalho, sobre Reforma Agrária. E estes são pontos importantíssimos que não podemos deixar de prestar atenção”, finalizou o ministro.